quarta-feira, 26 de março de 2008

o erro é meu ou de Paracelso ?

O vínculo gradativo entre o amor e o conhecimento, ou seja, de que quanto mais se conhece o objeto amado, maior é a capacidade de amá-lo, é um pensamento que há muito me convenceu.

Inversamente proporcional a esse pensamento, também há muito me parece evidente que a paixão amorosa, essa força instantânea, descomunal e capaz de estremecer as mais sólidas estruturas, está diretamente associada ao desconhecimento do objeto amado, ou seja, apaixonamo-nos com fúria e intensidade exatamente na mesma medida em que desconhecemos aquilo que nos despertou a paixão.

Se for razoável efetuar qualquer tipo de metáfora ao que está acima dito, pode-se dizer que o amor possui mais flexibilidade do que força, asselhando-se mais a uma árvore já enraizada e estabilizada, capaz de suportar todos os sacolejos de uma forte ventania: balançam os galhos e as folhas muitas vezes se descolam, mas o tronco permanece estável e flexível.

A paixão, por sua vez, agora com as escusas de uma metáfora metida a engraçadinha, pode ser associado à imagem de um daqueles caras de academia de musculação - cada vez mais comuns - que são dotados de grandes músculos adquiridos com o incansável levantamento de pesos variados, tornando-se enormes e em geral com uma resistência física, um "fôlego", bastante limitado.

Tais caras, aliás, talvez possuam força suficiente para levantar um carro ou um hipopótamo, em um só golpe, tendo assim uma inegável explosão de força. No entanto, pode-se dizer que a paixão e os musculosos acima possuem muito mais força do que flexibilidade, e que se forem também uma árvore, terão belos galhos malhados e folhas robustas, mas o tronco dificilmente suportará um leve entortar, espatifando-se como um galho seco.

Feitas as absurdas comparações, uma única razão me levou a pensar neste texto: o fato de ter reencontrado, ou relido, esta passagem de Paracelso:

"Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Mas quem compreende também ama, observa, vê...
Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor...
Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo,
como as cerejas,
nada sabe a respeito das uvas."

Razoável, não ?

Agora tente pensar que se isso for efetivamente verdadeiro, então teríamos, em tese, uma segurança ou garantia de que se nos empenharmos no conhecimento do objeto do amor, ou da pessoa amada, este amor estará de alguma forma consolidado e dificilmente poderá sair de nosso "controle", na medida em que o conhecemos com profundidade. Nesse sentido é a pertinência das metáforas acima, se o amor é forte como um árvore bem enraizada, é porque esta deita suas raízes no fértil solo do conhecimento sobre o objeto do amor, enquanto a paixão embora possua força de explosão, não possui raízes que lhe garantam a sustentação em caso de vendaval. Vale dizer, não se conhece ainda verdadeira e profundamente o objeto amado.

Mas agora vale pensar também nos inúmeros exemplos que todos têm, de amores que se rompem mesmo havendo, em princípio, conhecimento sobre o objeto amado. Quantas e quantas pessoas não cedem a uma paixão e renunciam a um amor ? Será que estas pessoas realmente se conheciam e desenvolveram esse amor fundado no conhecimento sobre o outro, ou então, o conhecimento sobre o outro não implica necessariamente em amor ?

O outro, o amado, efetivamente pode ser conhecido ? Ele pode ser conhecido como uma cereja ou uma uva o podem ? Não estaríamos incorrendo no grave risco de se totalizar uma certa concepção sobre o outro, de modo que ao afirmarmos que o conhecemos, acabamos o transformando em uma coisa dada e definitiva ?

Tal forma implicaria em uma certa petrificação de nosso olhar e conhecimento sobre o outro, e o grave erro reside exatamente em tornar ou querer tornar imutável e definitiva, uma pessoa, sem considerar que ela é um eterno "vir a ser", um processo de completude que nunca se encerra.

Quando nos damos conta de que qualquer um vive em constante mudança, e que nosso olhar capta apenas aquele ser que se apresenta aos nossos olhos, naquele exato instante, e não em outro, e que qualquer tentativa de petrificação, sobretudo quando esperamos certas atitudes e posicionamentos em razão de um conhecimento que julgamos ter sobre o outro, podemos talvez iniciar uma longa e interminável caminhada de não nos frustrarmos com escolhas e atos que não podemos controlar, mesmo daqueles a quem julgamos conhecer e ter amado.

Isso, no fundo, é respeitar e compreender a liberdade, e talvez a amaldiçoarmos...

Assim.....eu errei ? Ou a culpa é de Paracelso ?

Um comentário:

Anônimo disse...

Não acho que uma coisa exclua a outra; acho que Paracelso não se referia a pessoas quando formulou aquela idéia, ou então não considerava que o homem é um eterno vir a ser... De qualquer forma, acho ainda que o amor cresce quando se conhece o objeto, sim, mas como você mesmo citou a liberdade, a paixão pode ser, a curto prazo, mais atrante, sem que com isso exclua o amor.

Amo você.