Budistas acreditam no desapego.
Comunistas acreditam na história - ente autônomo dotado de vontade própria.
Cristãos acreditam na salvação eterna. E nos pecados. Racionais acreditam na razão.
Emotivos, por sua vez, na autenticidade e espontaneidade das emoções.
Empregados acreditam em bons salários. Advogados e juízes acreditam na justiça. Ou ao menos se contentam com a juridicidade da mesma.
Empresários acreditam em si mesmos.
Políticos profissionais acreditam no bem público.
Filósofos acreditam na sabedoria. Ainda que sem o amor. Músicos acreditam serem capazes de mudar o mundo.
Mas pintores, poetas e escultores, acreditam poder embelezá-lo.
Professores acreditam na educação.
Jornalistas acreditam ser possível alguma comunicação.
Médicos acreditam na saúde.
Coveiros acreditam na morte.
Economistas acreditam piamente em previsões.
Aikidokas acreditam em harmonia.
Assim também os vegetarianos.
Psicólogos e psicanalistas acreditam enxergar luz nas sombras.
Espiritualistas acreditam em transcendências.
Anarquistas acreditam numa - estranha - boa natureza humana.
Já os ecologistas, em uma natureza boa.
Niilistas acreditam na impossibilidade.
Escritores acreditam que algo deve ser dito.
Amantes acreditam na entrega.
E uma boa maioria acredita que tudo está pré-determinado pelos desígnios do além.
Inexoravelmente das crenças nos alimentamos. Um verdadeiro massacre.
Até que um vendaval - seja ela humano ou natural - lambe as crenças e as faz desaparecer subitamente.
Tornamo-nos então céticos. Para passarmos a acreditar nas dúvidas.