Normalmente, quando algo começa, impregna-se dos maiores desejos de êxito os projetos a que se decide canalizar alguma energia. União de esforços individuais, criação de esforço coletivo, sonhos e projeções, todos estão na raiz dos grandes projetos levados a cabo pela humanidade.
Sob a denonimação de grandes projetos temos de tudo, independentemente do valor ou julgamento histórico, ético e político que se possa fazer sobre seu conteúdo: do anarquismo ao nazismo, da escravidão à terceirização, do mercantilismo ao capitalismo high-tech, da luta dos primatas contra a supremacia da natureza até o atual ecologismo, do processo de criação da democracia ao longo dos tempos, dos mais diversos caminhos e meios criados para a elevação do espírito do homem, alcançando até mesmo o mais simples projeto individual.
Inexiste projeto humano que não esteja impregnado da essência que lhe confere exatamente esse caráter: a capacidade de lidar com um futuro inexistente e incerto, a partir de uma perspectiva positiva e otimista, havendo em cada um dos projetos uma tentativa de superação da realidade e crença em um certo futuro.
Porém, se por um lado há esse caráter esperançoso em qualquer projeto, tirânico ou não, por outro constata-se que a natureza humana tinge com outra cor os mesmos projetos.
Pela simples aplicação da regra de que tudo que é humano se corrompe atingimos uma ceifa universal: após delírios e esforços, após crescimentos e vítórias, dos louros se segue inevitavelmente a corrupção.
Dos mais belos sistemas políticos já idealizados e postos em prática pelo homem, não se pode negar que os mesmos foram também corrompidos por culpa do mesmo. Nas mais belas relações amorosas, a corrupção oriunda do homem rompe a integridade com que outrora se definiu o amor. Nos mais íntegros sistemas de ética concebidos, a prática humana foi capaz de deitar por terra uma vida virtualmente virtuosa.
Mesmo as religiões construídas a partir do desemparo humano, encontram seus limites, suas dúvidas, quando colocadas em choque com o real do homem no mundo.
Se há algo, assim, que não pode ser definido como simples pessimismo na compreensão geral das coisas, mas sim como marca que carrega aquilo que é projetado pelo homem, é que sua falibilidade a todo momento nos dá prova de sua existência.
Também é isso ser o humano.
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4 comentários:
''pessimismo da razao e otimismo da vontade'', baby...
muito bem lembrado...
Mas a merda é que mesmo quando se concretiza algo, demonstrando o otimismo da vontade e superando o pessimismo da razão, há algo que é caracteristicamente humano e que tem o poder de corromper a tudo.
Não sei bem o que é: contingências, conflitos, desgastes ou simplesmente um fim, assim como têm fim todas as outras coisas...
boa hora pra pensar como os orientais, o tal ciclo onde a degeneraçao é o adubo pra o q vem depois...
saca aquela dos elementos deles, agua que apodrece a madeira que vira terra que queima com o fogo que derrete o metal e tals? entao...
abraço.
"Humano, completamente humano..."
E tem gente que ainda me perguntava porque eu nunca tirava a camiseta da Clangor.
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