quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Aos 16, ela desejava que todos os bancos, todas as lojas, todas as empresas, todas as universidades, todas as igrejas e todas as famílias explodissem espalhando seus fragmentos pelo campo de batalha.

Aos 18, ela resolveu se organizar em coletivos, experimentar a união dos trabalhadores e dos estudantes. Ela queria se auto-gestionar, como sempre ouviu e repetiu. Enfastiou-se de colar lambe-lambes pelos postes e paredes da cidade.

Aos 24 ela saiu da universidade e já trabalhava. Ainda nutria ódio por quase tudo mas já era tolerante o suficiente para entender que a derrocada de um exército não começava com a morte do general.

Aos 30 nasceu seu filho e, com ele, se viu obrigada a deixar certos egoísmos de lado e pensar em um futuro minimamente digno e humano para si, para seu filho e para sua família. Mas a sua moral, pensava ela, estaria sob eterna guarida.

Aos 36 já estava completamente lambuzada pelo óleo que permite que as engrenagens das máquinas - todas elas - possam funcionar com o menor desgaste possível.

Aos 41 se surpreendeu quando abriu os jornais e leu que grande parte das empresas que tanto odiara aos 16, como Honda, General Motors e Ford, estavam na iminência de uma quebra definitiva.

Ainda sob os 41, chocou-se com gravidade ante a constatação de que não pensava mais nos grandes chefes das grandes empresas. Mas pensava em cada uma das famílias da grande massa de desempregados e seus filhos, vítimas da falência geral.

Aos 50, montou sua primeira árvore de Natal. Com a ajuda de seu filho.

Aos 57 se horrorizou quando após reencontro com antiga colega de universidade, teve de assumir para si mesma que o úlimo livro lido tinha sido o "Pensar é transgredir", de Lya Luft.

Muitos anos atrás era Voltaire que a encantava.

Aos 64, adoeceu.

Aos 67 morreu de câncer. E homenagens fúnebres ao melhor estilo cristão lhe foram prestadas.

4 comentários:

nome?sobrenome? disse...

puta coisa triste, brow...
espero estacionar na fase 3 e morrer aos 90, velha, anarquista, teimosa...

Alex P. disse...

Então se esforce para domar a roda do mundo, pois o que mais conheço é gente que nela se perde e, ainda por cima, acha que tá abafando...

Alex P. disse...

hmm... amargo eu, não ? hehe

Anônimo disse...

existem destinos alternativos para velhinhas alternativas, se liga neste
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=16511643

amargoso mesmo, tá precisado de umas sessoes de filosofia clínica, o primeiro cliente tem direito a desconto, nao perca essa oportunidade, ligue já e ganhe um brinde, inteiramente grátis...