terça-feira, 26 de agosto de 2008

Não poderia ter sido antes.

Só foi depois que senti o corpo estafado mas já estabilizado na poltrona vermelha, que descansei meus braços doloridos na grande mesa maciça e desocupada, que empurrei meus pés confortavelmente contra a parede áspera, que senti o percurso gélido de uma cerveja se iniciar na língua e rapidamente avançar em direção à minha garganta e ao meu estômago, só a partir daí é que pude realmente ouvir toda a gama de instrumentos tocarem o jazz, e sendo que apenas nesse momento me certifiquei que não havia possibilidade de explicar aquilo que se deliciava nos meus ouvidos.

Reconhecia uma certa melodia, e dentro dessa melodia, reconhecia também um ritmo. Da melodia e do ritmo que eu julgara já conhecer, buscava um padrão, haveria uma repetição na música que ouvia, e essa repetição me certificaria da existência de uma certa ordem natural das coisas. Não importava como e tampouco quando, os devaneios dos músicos seriam livres, loucos e destemperados, eles fingiriam a todo tempo não saber para onde voltar, improvisariam em bases seguras, mas, certamente, voltariam à mesma melodia e ao mesmo ritmo, assim como sempre volta para o ninho aquela criatura que tanto se arrisca durante o dia, confirmando a lei natural .

O diabo é que eles não voltaram ! Tal como aquele padre maluco que se jogou por aí ao sabor dos ventos acariciando o balão - admirável esse padre, não ? - os músicos não voltaram ao que eu esperava, e meu sentimento natural de retorno ao ninho: quente, aconchegante e conhecido, teve de ser rapidamente substituido por uma instantânea compreensão dos fatos.
Quem ouviu aquele jazz, ouviu. Quem não o ouviu com atenção, praticamente o perdeu de vez. Não haveria nova sessão e mesmo que os músicos resolvessem tocar tudo de novo, rigorosamente igual, algo me dizia que eles seriam incapazes de tal feito.
Com furor havia concluido que o jazz é assim mesmo: imprevisível dentro de sua previsibilidade. A sequência das notas obedece apenas à livre manifestação da consciência de quem as toca, sem qualquer plano anterior que possa garantir o rumo que será seguido. Balizas existem, ao menos ? Talvez apenas aquelas que garantam a delícia dos ouvidos: ritmo e melodia...

Tendo abdicado do desejo de encontrar o retorno ao conhecido na música que ouvia, a constatação seguinte era eivada da mais pura obviedade: a vida - ó ente ingrato - também é jazz!

5 comentários:

Anônimo disse...

Voltou a postar!!! Achei q o gato tinha comido seus dedos... Tá sabendo das apresentações em tributo ao Coltrane, lá no Sesc Consolação? As 19:30, até sexta, grátis, acho q se deve chegar beeeem antes, vou hj, mas vc estará na aula do Sérgio(argh), pobrezinho... Abraço.

Anônimo disse...

Voltou a postar!!! Achei q o gato tinha comido seus dedos... Tá sabendo das apresentações em tributo ao Coltrane, lá no Sesc Consolação? As 19:30, até sexta, grátis, acho q se deve chegar beeeem antes, vou hj, mas vc estará na aula do Sérgio(argh), pobrezinho... Abraço.

Anônimo disse...

Errata, o tributo ao Coltrane é só na sexta, por isso vou ver o Leon a tarde dessa vez... Ontem foi o Woddy Man, bom heim... E nem precisa chegar cedo, é no hall de entrada, e tem cerveja!!!

Anônimo disse...

Eu quis deixar um comentário nesse texto, mas não sei exatamente o que dizer... quero apenas que saiba que eu li. E estou cá relendo-o novamente até tentar descobrir o que se lê entre as entrelinhas...ao menos pra mim, é o que mais importa!
Beijos,
Ivich

Alex P. disse...

Dona Nome Sobrenome !
O gato quaaase comeu meus dedos....hehe. Uma falta absoluta do que dizer se refletiu na ausência por aqui...

Eu não estava sabendo sobre esse tributo ao Coltrane.... você foi mesmo ? Foi bom ? Se tinha jazz e cerveja, arrisco a dizer que foi mesmo, hein ?

Sendo quarta ou sexta eu estava realmente na aula, mesmo a do Sergio Cardoso..hehe mas no fim ele falou bastante sobre os gregos, e isso é sempre um prazer para um ser anacrônico como eu.\

:-)